quinta-feira, 22 de julho de 2010

Você já conhece o PCult?


Se não conhece, está na hora de conhecer!
O PCult é uma mobilização suprapartidária, que tem o intuito de fortalecer a presença do setor cultural nos parlamentos e nos governos.

"Inserir a Cultura como uma área central das políticas públicas do Brasil é nossa principal bandeira."
"Construir um campo de debate nacional, amplo e democrático, é o nosso meio."

Para acompanhar tudo que esta rolando, basta acompanhar o blog: http://partidodacultura.blogspot.com/

Abaixo, um texto do escritor o jornalista Alex Antunes sobre o tema:

PCult ou, como diria Arnaldo: mais louco é quem me diz

Durante anos nos acostumamos a pensar que a relação mais estreita entre "política" e "cultura" era o convite oportunista a músicos populares para atrair a massa desavisada aos comícios. Ou, o que é melhor, mas não muito, esses lobbies que os produtores e artistas fazem de vez em quando para garantir alguma reivindicação pontual. Os pequenos orçamentos e a relativa desimportância historicamente atribuida ao Ministério da Cultura são um retrato dessa visão banal: a do artista como um convidado até desejável para abrilhantar eventos públicos, porém um interlocutor pouco levado a sério em última instância.

Mas isso é uma falácia, um resíduo da pior jequice de nossas "elites", e uma distorção das mais perigosas. Pois toda a cultura é "política", no sentido de que é a visão que um povo tem e constantemente reelabora de si mesmo; o começo e o fim do processo da identidade psicossocial. E toda a política também é "cultura", no sentido de que são os atores sociais, ao encenar os anseios do país, que rascunham o roteiro do nosso destino. Se alguns de nossos atores políticos são canastrões, isso não faz deles apenas maus performers, mas principalmente maus políticos.

Afinal, quem descreve melhor o Brasil? Tim Maia, Nelson Rodrigues, Oswald de Andrade, Gláuber Rocha, Zé Celso? Ou Maluf, Jader Barbalho, ACM, Celso Pitta, Jânio Quadros? Claro, todos descrevem. Mas a quais deles já entregamos o poder? E quais deles agiram como Marx, o Groucho, esnobando o clube que os aceitasse? É essa lógica que está sendo subvertida nesse momento. Desde que um pensador de origem contracultural como Gilberto Gil aceitou o Ministério da Cultura, mesmo com erros e acertos, um processo maior foi posto em movimento.

Surge uma crescente preocupação com questões como a da renúncia fiscal, que ainda deixa na mão daquela elite arrivista e um tanto precária a decisão de que artistas "agregam prestígio" às suas marcas comerciais, fazendo cortesia com o chapéu alheio (o nosso, por sinal). Ou não só a profunda desorganização corrupta, mas principalmente o desacerto conceitual jurídico na questão da arrecadação e defesa dos direitos autorais e de imagem.

É "cultura" um país não poder biografar independentemente suas figuras públicas, essencial para a nossa autocompreensão como nação? É "cultura" os herdeiros se sentarem em cima do legado cultural de algumas de nossas principais inteligências, e estagnarem obras que ainda são tão vigorosas como seus autores, quando vivos?  Claro, essas são questões pontuais, mas bastante sintomáticas do atraso e da postura defensiva da nossa ex-intelligentzia. O mundo já é outro, e o Brasil é outro dentro desse outro mundo. Ao invés de negar estes tempos, vamos vivê-los. Rápido. Pois, como disse Pena Schmidt, a cultura é para a sociedade do conhecimento o que foi o aço para a revolução industrial.

Assim, começa a ficar mais claro comprendermos por que urgências psicossociais emerge um "partido da cultura", um grupo suprapartidário que converge não por oportunismo ou mesmo interesses de categoria, mas por partlhar ferramentas novas e um otimismo ímpar e libertário ao pensar o Brasil. Ese país que ainda, centenas de anos depois, é um impasse, uma terra conflagrada, cindida por diferentes interesses e projetos de civilização. Mas que também é um cadinho maravilhoso, um laboratório de onde a até pouco suposta "periferia" da civilização vislumbra os avanços mais originais.

Se hoje a "arte" e a "tecnologia" enxergam isso melhor do que a política, recicle-se a política. Pois, como disse Arnaldo Baptista, "mais louco é quem me diz/ E não é feliz"



Nenhum comentário: