Por Anderson Foca, Natal/RNTours constantes, produtores e novos modelos podem reconfigurar a música brasileira em pouco tempo.A cena é comum fora do Brasil. Banda organiza o trabalho artístico por uns seis meses, nesse mesmo período grava e começa a agendar tour para mostrar o trabalho ao vivo para o máximo de pessoas e lugares que conseguir. Vai gerando clipping, aumentando seguidores em sua rede social, disponibilizando mais conteúdo e continuando a tocar.A primeira ida nas cidades é quase sempre para não mais que 50 pessoas em dias de semana e locais sem muita estrutura. As idas se repetem e o interesse do público vai aumentando. A mídia começa a prestar atenção, a banda começa a ser chamada para festivais de médio porte e quando menos se espera aparece por aí mais um Artic Monkeys, que toma a cena de assalto e a maioria das pessoas “comuns” não sabem explicar de onde os caras vieram e com fizeram um sucesso tão estrondoso e tão “rápido”.Sempre foi um problema para a cena independente brasileira a falta de uma estrutura de pequeno e médio e porte que suporte esse tipo de trabalho por aqui. Parece que essa lógica “on the road” finalmente começa a acontecer com mais constância graças ao trabalho de gente abnegada e interessada em criar juntos um espaço sólido para os novos rumos da música nacional. São bandas, coletivos, produtores, pontos de cultura, festivais, pequenos pubs, blogs, fotógrafos, jornalistas, entre outros agentes integrados por um bem comum que é de fazer circular e dar possibilidades para o novo.O fenômeno não é novo, mas agora parece ser um caminho sem volta, ainda bem. Usando como dados as ações do Fora do Eixo, hoje uma das principais plataformas dessa nova lógica de circulação, os números impressionam. Em apenas três meses desse começo de ano e sem contar as ações de festiviais como o Grito Rock, também organizado pelo circuito, mais de 80 shows foram realizados no Brasil com esse viés de tour, de tocar todo dia, de explorar lugares pouco visitados, interiorizando rotas e abrindo novas frentes de trabalho e produção. Bandas como Caldo de Piaba (AC), Camarones Orquestra Guitarrística (RN), Calistoga(RN), Burro Morto (PB), Cabruêra (PB), Min ibox Lunar (AP), Nevilton (PR), Por cas Borboletas (MG), Macaco Bong (MT), Superguidis (RS), B lack Drawing Chalks (GO), entre outras, devem chegar ao final do ano com média de 70 a 100 datas anuais, um número surreal para os padrões nacionais e para a cena independente como um todo.
Alguns podem perguntar: e essas rotas são viáveis? Dá para viver da banda ficando na estrada o tempo todo? A resposta é clara. Se o seu dia-a-dia for a banda dá sim. Claro, não há luxo, não a glamour “estilo Van Halen”, mas há um senso de honestidade e de respeito que gera trabalho e dinheiro. Ninguém chama banda para grandes eventos se ela não tiver currículo e emitir um sinal de que está “na pista” e quer circular. Nenhum curador de edital lembra de um grupo sem ele ter ajudado tocando e se divulgando e é dessa forma que as bandas crescem, mudam de patamar e passam e ser viáveis.É importante perceber também que não são só as bandas que se consolidam com um dia-a-dia sólido. Hoje muito produtores e espaços pequenos estão arrumando financiamento, se estruturando e melhorando as condições de circulação. Quando as ações crescem o mercado acompanha e é essa soma de forças que vai dando solidez para a atividade de música no Brasil.Claro. Os modelos são vários, os formatos são dinâmicos, mas muito me alegra que finalmente estejamos dentro de um circuito que integra uma centena de festivais, duas centenas de espaços e gente em todas as regiões dispostas a fazer a coisa funcionar. O futuro é agora, vamos aproveitar!